mardi 18 décembre 2012

A mandioca e a farinha no Brasil – O básico



Produzimos por ano no Brasil mais de 27 milhões de toneladas de mandioca (plantas da família Euforbiácia, genero Manihot – e também chamada regionalmente macaxeira ou aipim) e mais de 80% disso é transformado em farinha. Ou melhor, farinhas. De diferentes mandiocas, processos e tipos, o universo da farinha é vasto. Olha que ainda nem estão inclusas aí as féculas, como polvilhos e tapiocas, que correspondem a mais 3% desse total. São cerca de 400 mil casas de farinha espalhadas por todo o país, juntamente com as indústrias de beneficiamento.

A região com maior produção de mandioca é o Nordeste, com 37% do total. Em seguida a região Norte, com sua predileção por farinhas d’água, vem com 28%, seguido pela região Sul com 20%. Sudeste e Centroeste correspondem a 9 e 6% respectivamente. Significativo notar que todos os Estados brasileiros produzem mandioca.

Mesmo a Ásia e África sendo os maiores produtores de mandioca no Mundo, o Brasil é o único que tem a farinha como produto principal. Esse ingrediente, juntamente com a farofa, são talvez o maior ícone da nossa cozinha, congregando todas as regiões do país, do Churrasco no Rio Grande do Sul ao Chibé no Amazonas.

A raiz da mandioca tem três constituintes distintos, a casca (5%), a entrecasca(13%) e a polpa (82%). Alguns produtores processam a entrecasca juntamente da polpa para a produção da farinha, o que aumenta o rendimento em detrimento da qualidade do produto. O rendimento de produção numa casa de farinha é de em média 30% em relação ao peso bruto da mandioca. Percentual que varia de acordo a variedade, idade da cultura e sistema de fabricação.

A cadeia produtiva da farinha agrega valor ao produto, facilita a logística de armazenamento e transporte, aumenta a sua durabilidade e gera emprego e renda.

As variedades de mandioca
Há vários tipos de mandioca sendo cultivados no Brasil. No centro de estudos de mandioca da Embrapa, por exemplo, há mais de duas mil variedades nos campos sendo usadas para o melhoramento genético da planta. O que pode resultar em maior produtividade e melhora de características nutricionais e organolépticas.

As variedades mais comuns no Nordeste são Fio de Ouro, Saracura, Abacate, Maragogipe, Casca Roxa, Paraguai, Platina, Branquinha, Alagoana, Caetité, Manteiga, dentre outras. Há também a seleção genética feita em laboratório através de cruzamentos, como a BRS Dourada, BRS Jari e BRS Gema de Ovo, desenvolvidas pela Embrapa, todas com níveis superiores de nutrientes e baixos teores de fibras.

Cada região, com seus climas e solos específicos, demanda variedades diferentes de mandioca para que haja produtividade e qualidades adequadas. A finalidade escolhida também é importante, as variedades ideais para a indústria, a produção de fécula e as de mesa são normalmente diferentes entre si.


Toxicidade
A mandioca brava, possui a substância linamarina em concentração maior que a mandioca de mesa, que através de reações enzimáticas naturais produz ácido cianídrico (HCN), que é tóxico quando inalado ou ingerido, mas não cumulativo. Não há diferenças morfológicas entre os tipos de mandioca brava ou mansa, contudo não há registros relevantes de intoxicação por consumo das plantas ou de seus produtos. O processamento do produto para a farinha já elimina a maior parte do cianeto livre e o leva a níveis seguros para o consumo. Há inclusive controvérsias sobre a real toxicidade da mandioca tanto para consumos humano quanto animal.



A classificação das farinhas

Grupo
Tecnologia de fabricação -Farinha seca ou torrada (mais consumida), Farinha d’água ou Farinha mista

Subgrupo
Granulometria - Extra-fina, fina, média, grossa, quebradinha ou bijusada

Classe
Cor – Branca, amarela e outras

Tipo
Outras características – Porcentagem de cascas, cepas, fiapos, entrecascas, raspas, pontos pretos, pó, umidade, acidez, cinzas, amido


O processamento da farinha seca de mesa
1. Colheita (de 18 a 24 meses de idade)
2. Transporte (idealmente em menos de 24h)
3. Descascamento (a máquina ou manual)
4. Lavagem (fundamental para a qualidade final)
5. Ralação ou Moagem (começa a se definir o caráter da farinha)
6. Prensagem (mecânica ou semi-manual)
7. Esfarelamento (seguido de peneiragem)
8. Secagem ou torração (diferentes tipos de forno ou tacho)
9. Classificação (grupo, classe, tipo)
10. Embalagem (proteção contra umidade)


O processamento da farinha d’água
1. Colheita (de 18 a 24 meses de idade)
2. Transporte (idealmente em menos de 24h)
3. Descascamento (a máquina ou manual)
4. Pubagem (antes ou após o descascamento, em tanques ou igarapés, de 1 a 6 dias)
5. Lavagem (fundamental para a qualidade final)
6. Ralação ou Moagem (começa a se definir o caráter da farinha)
7. Prensagem (mecânica ou semi-manual)
8. Esfarelamento (seguido de peneiragem)
9. Secagem ou torração (diferentes tipos de forno ou tacho)
10. Classificação (grupo, classe, tipo)
11. Embalagem (proteção contra umidade)

A farinha mista
Produzida a partir de uma mistura de mandiocas pubadas e não pubadas, típica do Pará.

A farinha de mandioca panificável
Feita a partir de mandioca desidratada e processada, foi usada largamente durante a década 60-70, quando um decreto obrigava a substituição de até 20% da farinha de trigo por mandioca. Esse processo gera uma farinha mais fina e rica em amido e nutrientes. Pode ser usada para bijus e massas amanteigadas como biscoitos e tortas, além é claro da panificação tradicional.

Fécula de mandioca
Fécula é o nome que se dá ao produto amiláceo proveniente de raízes e tubérculos como mandioca e batata por exemplo. Amidos por sua vez são aqueles retirados da parte aérea das plantas – sementes – como milho e arroz, os mais comuns. Polvilho doce, polvilho azedo (fermentado), tapioca e sagu são todos variações da fécula da mandioca.
Para a extração do produto, a raiz é ralada, prensada e lavada. Esse líquido recolhido é colocado em tanque para lavagem e decantação (no caso do polvilho azedo também deixado para fermentação por até 30 dias). Tapiocas e sagus são feitos a partir da fécula gelatinizada e seca, artesanal ou industrialmente.
Outra categoria são os amidos modificados, que são tratados por processos físicos, químicos ou enzimáticos, para adquirir características que os amidos naturais não possuem. Além da indústria alimentícia, as féculas são usadas na mineração, tecelagem, cosmética, farmacêutica, fundição, dentre outras.


Para saber mais:

Vídeo farinha de mandioca - Embrapa

Professor emérito Nagib Nassar – UnB Universidade de Brasília
nagnassa@rudah.com.br Fones (61) 3307 2169 e 3349 3253

Pesquisadora chefe Wania Fukuda - Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical
Contato Léa Cunha Fones leacunha@cnpmf.embrapa.br Fones (75) 3621-8076 Fax: (75) 3621-8092

The domestication and early spread of manioc (manihot esculenta crantz): a brief synthesis - Christian Isendahl

Cassava Research - Swiss Federal Institute of Technology Zurich

Technology transfer and capacity building:
Making tropical crop technologies available where it can have an impact


Para ouvir:
Farinha – Djavan